segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Retalhos de seda puída






Começo agora. Nada sei ainda. Falta tanto! Nem uma noite, nem uma tarde, nem uma manhã, nem mesmo a madrugada, nenhuma fração de tempo, nenhum piedoso intervalo permitirão que eu respire profunda e corajosamente para que possa virar o disco.


Quebramos toda espera e pernoitamos estendidos no frio chão de mármore.


Cada lágrima é um cárcere suspenso que freia minha fúria. Mas choro.


_ Estou sem você novamente ou estou com você finalmente?


Quantas vezes nos reconhecemos e tantas outras nos estranhamos e nos afastamos com esclarecedora resignação.


Quem sou e onde estou já não importa. Cheguei e me sentei no canto angular da parede. Não tenho que me confessar. Facilito o convívio com meus pecados tragando a fumaça que guardo entre meus dedos.


Estou agachada como um chinês nas galerias ou como um caipira debaixo das minguadas árvores e levanto as pernas compridas como as de um grilo, que trespassam a minha cabeça raspando as minhas orelhas e abaixo o olhar observando a fria areia.


Mar, mais mar, muito mais mar, um sufoco causado de tanto mar, sem ar, quero mais mar, rodeada pelo mar, travada pelo mar, usada pelo mar, consagrada pelo mar. Um banho de mar!

Minha pele raspa a úmida areia, e meus ísquios doem ao roçar a fina pele.
Pele e osso!

Tiraram-me o peso das carnes e me deram o peso do outro.

Un, dói, igo, ei, ora, ira, ami, uivo, al, om.



Um comentário:

Unknown disse...

Mãe, você escreve como ninguém. Autêntica e única, suas palavras entram em minha mente e permanecem já floridas, alegrando meu ser. te amo muito. continue sua busca, sua paz me encanta.